O racismo nosso de todos os dias
Por Walter Takemoto
Na terça, 29 de setembro, na cidade negra de Salvador, no shopping em que a maioria da clientela é branca e a maioria dos que limpam os banheiros, corredores, seguranças e funcionários das lojas são negros e negras, uma mulher branca, cliente, se recusou a ser atendida por um vendedor negro.
Com a discussão entre os envolvidos, pessoas começaram a se concentrar no local e a mulher fugiu para outra loja, até a chegada da PM e dos seguranças do shopping. Sob gritos de racistas das pessoas, conduziram a mulher para a delegacia.Não satisfeita, a mulher disse ao funcionário negro que ele só servia para motorista de traficante e o chamou de macaco. Outro funcionário da loja ao ouvir a agressão, chamou a polícia.
Essa violência racista, explícita, é apenas uma das formas de opressão e herança da escravidão imposta aos negros e negras no nosso País. O shopping é o palco onde parte da elite soteropolitana exibe sua condição de ocupante da casa grande e a sua condição econômica de poder ter serviçais à sua disposição dia e noite.
Casais brancos caminham felizes pelos corredores seguidos por adolescentes e jovens negras carregando suas compras e seus rebentos.
Nas mesas dos restaurantes saboreiam seus pratos gourmetizados, enquanto suas serviçais alimentam seus rebentos.
Não importa se é domingo, feriado, almoço ou jantar.
E a adolescente ou jovem negra que alimenta o rebento branco, sentada na mesa do restaurante, só pode comer depois de servir seu infante senhor. E provavelmente a conta da refeição será quase o que ganha ao final do mês.
O filme é o filme. Ao vivo é muito pior.
E o racismo de todos os dias na cidade negra é um imenso carnaval de camarotes, cordas e abadás.
E sobre ele escrevi um dia.
“Cortar as cordas camará!
Os negros esticam a corda, que separa quase todos brancos de quase todos negros.
E a corda suspensa no ar serpenteia, como os açoites nas costas dos negros que lutavam para romper as cordas invisíveis da escravidão.
E o trio elétrico com seu som ensurdecedor cala os gritos que rompem o tempo dos negros amarrados logo ali, no pelourinho.
E a corda do capitão do mato que prende o negro escravo é a mesma corda do policial da cidade que prende o negro, que luta para sobreviver, pelo bem ou pelo mal.
E os negros que puxam a corda que separa, nada mais faz que esticar a corda do passado que escraviza.
Cortar a corda camará, amarrar a corda na cinta e jogar camará, dar um nó na corda e esconder a ponta camará!”
Fonte: www.carosamigos.com.br
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