“Existe um Zumbi em cada um de nós”
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Em entrevista para Página do MST, Marcos Rezende do Coletivo de Entidades Negras afirma que o racismo não é apenas uma questão social, mas sim, uma ferida profunda em nossa sociedade
Por Wesley Lima
Da Página do MST
A luta pela terra, por Reforma Agrária e pelo Socialismo, caminha lado a lado com a defesa da liberdade, dignidade e emancipação. Tais bandeiras, são a base dos processos históricos de resistência protagonizados pela população negra, que cotidianamente são negados direitos básicos, como saúde, educação, salários dignos, que se convertem num amplo processo de marginalização social.
Ao aprofundar essas questões, com ênfase no 20 de novembro, data em que Zumbi dos Palmares foi morto, Marcos Rezende*, do Coletivo de Entidades Negras (CEN), fala do processo de construção de sua identidade, enquanto sujeito político, e dos enfrentamentos históricos do Movimento Negro.
Em entrevista para Página do MST, Rezende afirma que o racismo não é apenas uma questão social, mas uma questão muito mais aprofundada que está no seio da sociedade e, por isso, é necessário debater classe, raça e gênero.
Ainda na infância, ele conta que sentia na pele o peso de ser negro e diz que essas primeiras opressões materializaram o sujeito militante. “Eu digo que a minha militância começou, não através de uma vontade individual, revolucionária, mas através de um despertar causado por meus colegas de escolas, que reproduziam o racismo, isso sem muita responsabilidade, mas era um tom jocoso que me despertou para questões raciais”.
Nesse mesmo contexto, acredita que as lutas em defesa da vida são marcas de uma chama ancestral que existe dentro de cada um e cada uma. “Existe um negro guerreiro disposto a dá sua vida por independência, por liberdade, em cada um de nós”, destaca.
Confira a entrevista na íntegra:
O processo de construção de nossa militância diz muito sobre as lutas e enfrentamentos que vivenciamos no dia a dia. Fale um pouco sobre esse aspecto e como ele incide na sua identidade enquanto negro.
Creio que minha militância não foi uma escolha, porquê a violência do racismo nos torna militante, mesmo sem a gente saber. Essa violência nos transforma em negros e foi com nove anos de idade que comecei a perceber essas coisas. Porém, foi com 11 anos que comecei a questionar essas questões. É importante nos atentarmos que esse é um processo continuado, que vai se perpetuando durante décadas da minha vida.
Eu digo que a minha militância começou, não através de uma vontade individual, revolucionária, mas através de um despertar causado por meus colegas de escolas, que reproduziam o racismo, isso sem muita responsabilidade, mas era um tom jocoso que me despertou para questões raciais.
Minha militância se aprofunda quando eu entro no Olodum, porque eu começo a realizar trabalhos, auxiliando a diretora criativa na época que era Sinome Magalhães. Ela foi uma tutora e me ensinou o passo a passo do cotidiano das lutas do Movimento Negro. Não posso esquecer de João Jorge, presidente do Olodum na época, que foi fundamental também o processo de construção da ideia militante.
O racismo não é apenas uma questão social é uma questão muito mais aprofundada que está no seio da sociedade e por isso, é necessário debater classe, raça e gênero. Depois do Olodum, a gente construiu o Coletivo de Entidades Negras (CEN). Construir o CEN foi um chamado religioso, porque neste processo eu entrei num terreiro de candomblé que tinha um afoxé [...] O CEN não foi uma entidade fabricada, pensada, arquitetada numa sala com ar condicionado, com estatuto. O CEN foi uma construção coletiva e se constituiu com a força e desejo de uma gama de atores e atrizes das lutas populares. Por isso, nos colocamos enquanto entidade política do Movimento Negro.
Quais são as principais bandeiras do Movimento Negro e o papel que possuí no processo de organização das lutas populares contra o racismo?
Falar das bandeiras de luta do Movimento Negro, nos remete a pensar os processos históricos de luta e nossa tradição, que nos remete a ancestralidade, que para nós não é uma coisa que está parada na África, distante, algo morto, pelo contrário, é algo que está muito vivo dentro de nós e continua com a gente. Essa ancestralidade foi o que fez uma série de homens e mulheres negros, mesmo trazidos para cá no processo do escravismo, foram mantendo uma cultura que apesar de todas as violências e opressões se manteve viva.
Mas, esse conjunto do que a gente chama de Movimento Tradicional Negro se inicia com uma pauta da década de 70, porém antes disso, nós já tínhamos as irmandades, os terreiros de candomblé, os capoeiristas, que, essencialmente, tinham uma série de elementos de resistência que foram formulando, muitas vezes de forma consciente ou inconsciente, uma pauta que era de emancipação do povo negro. Essas irmandades começaram com uma pauta que dura até hoje, como por exemplo, a irmandade dos homens pretos que já lutava para que a gente tivesse uma liberdade econômica.
Quando pensamos nesse Movimento, precisamos entender que existe racismo no Brasil. A sociedade dizia que aqui não tinha racismo, porque todo mundo era mestiço. Nós passamos por um processo de mestiçagem, no entanto não é só isso, existe o racismo. Mesmo com o processo de mestiçagem não quer dizer que o racismo foi eliminado [...] Esse movimento problematizou essas questões na década de 70 e nós trazemos essa pauta que já avançou bastante.
Porém, temos como principal bandeira de luta a questão do extermínio ou genocídio da juventude negra, que é uma pauta muito importante. Nós temos também a pauta do encarceramento em massa do povo negro, que traz vestígios do escravismo, isso porque sempre que o povo negro avança em um campo, são construídas outras formas de encarcerar, seja pelo debate da guerra às drogas, que é mais uma justificativa da guerra aos negros. Outro ponto é a violência que as mulheres negras passam em todos os campos da sociedade, que vai desde o feminicídio até os piores salários, isso quando tem salário.
Os povos de terreiro e comunidades tradicionais também bandeiras do Movimento Negro. Ou seja, nossas lutas dizem respeito ao mínimo, que é continuar existindo. Temos ainda as pautas do empreendedorismo negro, as questões educacionais [...] o direito e o acesso à terra, a comunicação, o poder, ao cotidiano de política.
Olhando para esse berço histórico onde nasce as pautas e lutas do Movimento Negro, que instrumentos de reivindicação e denúncia têm se consolidado?
Atualmente, o Movimento Negro tem denunciado a forma como se tem abandonado, ou não olhado, às violências cotidianas que nosso povo tem sofrido. Então, por exemplo, no campo das religiões de matriz africana, estamos fazendo denúncias na OEA e na ONU, do que de fato estamos chamando de racismo religioso. Várias denúncias são feitas cotidianamente, porém o Estado nunca tratou com o devido cuidado.
A questão das terras das comunidades quilombolas tem sido uma denúncia permanente, assim como o assassinato de lideranças e a garantia de documentação de reconhecimento daquelas comunidades. Nossa forma de denúncia e de pressão tem se dado na apresentação e debate desses pontos em todos os ambientes e espaços de lutas possíveis.
Fazemos as denúncias, mas sabemos que no capitalismo não tem saída. Acreditamos que todo negro precisa ser de esquerda, precisa ser socialista, porque as estruturas do capitalismo são elitistas e as pessoas que detém todas essas estruturas construíram esse sistema na exclusão e escravização do povo negro e isso nunca vai chegar nas nossas mãos e, mesmo que chegue, nós não queremos fazer parte de um sistema que sempre na base teremos milhões ou bilhões dos nossos descendentes em extrema pobreza.
Quais são os desafios que o Movimento Negro possuí para o próximo período diante deste cenário de instabilidade democrática, avanço das forças imperialistas e do projeto neoliberal no mundo todo?
Essa desarrumação da sociedade brasileira representa uma mudança em toda sociedade. Aonde vai parar isso? A gente não sabe. Mas, uma coisa nós sabemos, que existe a possibilidade de arrumarmos as nossas forças. Exemplo disso, é o aumento do trabalho dentro das periferias e comunidades, que tem sido feito pelo movimento negro de forma bem sistemática.
Uma conquista importante foi o Estatuto de Promoção da Igualdade Racial e de Combate à Intolerância Religiosa do Estado da Bahia, que só foi possível pela unidade dos movimentos negros baianos e por termos dois deputados negros que catalisaram isso (primeiro Valmir que fez o projeto enquanto deputado estadual e depois Bira Corôa, que tocou o projeto para aprovação). Isso mostra a importância da representatividade.
Nós percebemos que neste momento de crise política, institucional, as últimas lutas têm nos garantido muitas vitórias, mesmo diante desta avalanche de retrocessos para o conjunto da classe trabalhadora. Hoje, nós percebemos que qualquer comunidade negra, em qualquer lugar desse país, sabe que é negra. Não tem mais aquela coisa ‘não sabe se é negra’. A identidade racial chegou em todos os lugares e isso é uma grande vitória.
Nossas tarefas no futuro têm haver com nosso processo de organização das bases e aprofundamento do debate racial em diversos espaços. Nossas pautas de luta através das amplas crises se convergiram para algo no Movimento Negro chamado de Convergência Negra Brasileira, que é mais um espaço de combate a violência, que representa o golpe de estado consolidado com Temer.
Temos a tarefa de fazer a esquerda compreender que estamos lutando pelos nossos direitos e não vamos nos curvar para ninguém. Precisamos refundar o que é ser de esquerda nesse país, para colocarmos na rua o que significa ser negro na sociedade hoje. A nossa esquerda precisa ser de classe, raça e de gênero [...] A curto prazo, acreditamos que o 20 de novembro é um espaço importante que podemos fazer não só as denúncias, mas as experiências positivas e exitosas da comunidade negra brasileira nos últimos anos.
Nessa data, quando falamos de Zumbi, para muitos parece que é o sujeito mítico, distante, que ficou lá em palmares há anos atrás. O que a gente está dizendo quando estamos falando sobre o mês da consciência negra é que existe um Zumbi dentro de cada um de nós. Existe essa chama de ancestralidade dentro de cada um de nós. Existe um negro guerreiro disposto a dá sua vida por independência, por liberdade dentro de cada um de nós. Dentro de cada homem ou mulher negra, de cada idoso, de cada criança, de cada um que venha a nascer. Existe um Zumbi, uma Dandara vivos gritando por liberdade, por um outro mundo possível para gente.
*Coordenador Geral do Coletivo de Entidades Negras/CEN, entidade nacional do movimento negro e Ogan de Ewá do Ilê Axé Oxumarê, Marcos Rezende é ativista do movimento negro e de direitos humanos. É formado em História com Pós Graduação em História e Cultura Afro Brasileira e Mestre em Desenvolvimento e Gestão Social pela UFBA.
Por Wesley Lima
Da Página do MST
Da Página do MST
A luta pela terra, por Reforma Agrária e pelo Socialismo, caminha lado a lado com a defesa da liberdade, dignidade e emancipação. Tais bandeiras, são a base dos processos históricos de resistência protagonizados pela população negra, que cotidianamente são negados direitos básicos, como saúde, educação, salários dignos, que se convertem num amplo processo de marginalização social.
Ao aprofundar essas questões, com ênfase no 20 de novembro, data em que Zumbi dos Palmares foi morto, Marcos Rezende*, do Coletivo de Entidades Negras (CEN), fala do processo de construção de sua identidade, enquanto sujeito político, e dos enfrentamentos históricos do Movimento Negro.
Em entrevista para Página do MST, Rezende afirma que o racismo não é apenas uma questão social, mas uma questão muito mais aprofundada que está no seio da sociedade e, por isso, é necessário debater classe, raça e gênero.
Ainda na infância, ele conta que sentia na pele o peso de ser negro e diz que essas primeiras opressões materializaram o sujeito militante. “Eu digo que a minha militância começou, não através de uma vontade individual, revolucionária, mas através de um despertar causado por meus colegas de escolas, que reproduziam o racismo, isso sem muita responsabilidade, mas era um tom jocoso que me despertou para questões raciais”.
Nesse mesmo contexto, acredita que as lutas em defesa da vida são marcas de uma chama ancestral que existe dentro de cada um e cada uma. “Existe um negro guerreiro disposto a dá sua vida por independência, por liberdade, em cada um de nós”, destaca.
Confira a entrevista na íntegra:
O processo de construção de nossa militância diz muito sobre as lutas e enfrentamentos que vivenciamos no dia a dia. Fale um pouco sobre esse aspecto e como ele incide na sua identidade enquanto negro.
Creio que minha militância não foi uma escolha, porquê a violência do racismo nos torna militante, mesmo sem a gente saber. Essa violência nos transforma em negros e foi com nove anos de idade que comecei a perceber essas coisas. Porém, foi com 11 anos que comecei a questionar essas questões. É importante nos atentarmos que esse é um processo continuado, que vai se perpetuando durante décadas da minha vida.
Eu digo que a minha militância começou, não através de uma vontade individual, revolucionária, mas através de um despertar causado por meus colegas de escolas, que reproduziam o racismo, isso sem muita responsabilidade, mas era um tom jocoso que me despertou para questões raciais.
Minha militância se aprofunda quando eu entro no Olodum, porque eu começo a realizar trabalhos, auxiliando a diretora criativa na época que era Sinome Magalhães. Ela foi uma tutora e me ensinou o passo a passo do cotidiano das lutas do Movimento Negro. Não posso esquecer de João Jorge, presidente do Olodum na época, que foi fundamental também o processo de construção da ideia militante.
O racismo não é apenas uma questão social é uma questão muito mais aprofundada que está no seio da sociedade e por isso, é necessário debater classe, raça e gênero. Depois do Olodum, a gente construiu o Coletivo de Entidades Negras (CEN). Construir o CEN foi um chamado religioso, porque neste processo eu entrei num terreiro de candomblé que tinha um afoxé [...] O CEN não foi uma entidade fabricada, pensada, arquitetada numa sala com ar condicionado, com estatuto. O CEN foi uma construção coletiva e se constituiu com a força e desejo de uma gama de atores e atrizes das lutas populares. Por isso, nos colocamos enquanto entidade política do Movimento Negro.
Quais são as principais bandeiras do Movimento Negro e o papel que possuí no processo de organização das lutas populares contra o racismo?
Falar das bandeiras de luta do Movimento Negro, nos remete a pensar os processos históricos de luta e nossa tradição, que nos remete a ancestralidade, que para nós não é uma coisa que está parada na África, distante, algo morto, pelo contrário, é algo que está muito vivo dentro de nós e continua com a gente. Essa ancestralidade foi o que fez uma série de homens e mulheres negros, mesmo trazidos para cá no processo do escravismo, foram mantendo uma cultura que apesar de todas as violências e opressões se manteve viva.
Mas, esse conjunto do que a gente chama de Movimento Tradicional Negro se inicia com uma pauta da década de 70, porém antes disso, nós já tínhamos as irmandades, os terreiros de candomblé, os capoeiristas, que, essencialmente, tinham uma série de elementos de resistência que foram formulando, muitas vezes de forma consciente ou inconsciente, uma pauta que era de emancipação do povo negro. Essas irmandades começaram com uma pauta que dura até hoje, como por exemplo, a irmandade dos homens pretos que já lutava para que a gente tivesse uma liberdade econômica.
Quando pensamos nesse Movimento, precisamos entender que existe racismo no Brasil. A sociedade dizia que aqui não tinha racismo, porque todo mundo era mestiço. Nós passamos por um processo de mestiçagem, no entanto não é só isso, existe o racismo. Mesmo com o processo de mestiçagem não quer dizer que o racismo foi eliminado [...] Esse movimento problematizou essas questões na década de 70 e nós trazemos essa pauta que já avançou bastante.
Porém, temos como principal bandeira de luta a questão do extermínio ou genocídio da juventude negra, que é uma pauta muito importante. Nós temos também a pauta do encarceramento em massa do povo negro, que traz vestígios do escravismo, isso porque sempre que o povo negro avança em um campo, são construídas outras formas de encarcerar, seja pelo debate da guerra às drogas, que é mais uma justificativa da guerra aos negros. Outro ponto é a violência que as mulheres negras passam em todos os campos da sociedade, que vai desde o feminicídio até os piores salários, isso quando tem salário.
Os povos de terreiro e comunidades tradicionais também bandeiras do Movimento Negro. Ou seja, nossas lutas dizem respeito ao mínimo, que é continuar existindo. Temos ainda as pautas do empreendedorismo negro, as questões educacionais [...] o direito e o acesso à terra, a comunicação, o poder, ao cotidiano de política.
Olhando para esse berço histórico onde nasce as pautas e lutas do Movimento Negro, que instrumentos de reivindicação e denúncia têm se consolidado?
Atualmente, o Movimento Negro tem denunciado a forma como se tem abandonado, ou não olhado, às violências cotidianas que nosso povo tem sofrido. Então, por exemplo, no campo das religiões de matriz africana, estamos fazendo denúncias na OEA e na ONU, do que de fato estamos chamando de racismo religioso. Várias denúncias são feitas cotidianamente, porém o Estado nunca tratou com o devido cuidado.
A questão das terras das comunidades quilombolas tem sido uma denúncia permanente, assim como o assassinato de lideranças e a garantia de documentação de reconhecimento daquelas comunidades. Nossa forma de denúncia e de pressão tem se dado na apresentação e debate desses pontos em todos os ambientes e espaços de lutas possíveis.
Fazemos as denúncias, mas sabemos que no capitalismo não tem saída. Acreditamos que todo negro precisa ser de esquerda, precisa ser socialista, porque as estruturas do capitalismo são elitistas e as pessoas que detém todas essas estruturas construíram esse sistema na exclusão e escravização do povo negro e isso nunca vai chegar nas nossas mãos e, mesmo que chegue, nós não queremos fazer parte de um sistema que sempre na base teremos milhões ou bilhões dos nossos descendentes em extrema pobreza.
Quais são os desafios que o Movimento Negro possuí para o próximo período diante deste cenário de instabilidade democrática, avanço das forças imperialistas e do projeto neoliberal no mundo todo?
Essa desarrumação da sociedade brasileira representa uma mudança em toda sociedade. Aonde vai parar isso? A gente não sabe. Mas, uma coisa nós sabemos, que existe a possibilidade de arrumarmos as nossas forças. Exemplo disso, é o aumento do trabalho dentro das periferias e comunidades, que tem sido feito pelo movimento negro de forma bem sistemática.
Uma conquista importante foi o Estatuto de Promoção da Igualdade Racial e de Combate à Intolerância Religiosa do Estado da Bahia, que só foi possível pela unidade dos movimentos negros baianos e por termos dois deputados negros que catalisaram isso (primeiro Valmir que fez o projeto enquanto deputado estadual e depois Bira Corôa, que tocou o projeto para aprovação). Isso mostra a importância da representatividade.
Nós percebemos que neste momento de crise política, institucional, as últimas lutas têm nos garantido muitas vitórias, mesmo diante desta avalanche de retrocessos para o conjunto da classe trabalhadora. Hoje, nós percebemos que qualquer comunidade negra, em qualquer lugar desse país, sabe que é negra. Não tem mais aquela coisa ‘não sabe se é negra’. A identidade racial chegou em todos os lugares e isso é uma grande vitória.
Nossas tarefas no futuro têm haver com nosso processo de organização das bases e aprofundamento do debate racial em diversos espaços. Nossas pautas de luta através das amplas crises se convergiram para algo no Movimento Negro chamado de Convergência Negra Brasileira, que é mais um espaço de combate a violência, que representa o golpe de estado consolidado com Temer.
Temos a tarefa de fazer a esquerda compreender que estamos lutando pelos nossos direitos e não vamos nos curvar para ninguém. Precisamos refundar o que é ser de esquerda nesse país, para colocarmos na rua o que significa ser negro na sociedade hoje. A nossa esquerda precisa ser de classe, raça e de gênero [...] A curto prazo, acreditamos que o 20 de novembro é um espaço importante que podemos fazer não só as denúncias, mas as experiências positivas e exitosas da comunidade negra brasileira nos últimos anos.
Nessa data, quando falamos de Zumbi, para muitos parece que é o sujeito mítico, distante, que ficou lá em palmares há anos atrás. O que a gente está dizendo quando estamos falando sobre o mês da consciência negra é que existe um Zumbi dentro de cada um de nós. Existe essa chama de ancestralidade dentro de cada um de nós. Existe um negro guerreiro disposto a dá sua vida por independência, por liberdade dentro de cada um de nós. Dentro de cada homem ou mulher negra, de cada idoso, de cada criança, de cada um que venha a nascer. Existe um Zumbi, uma Dandara vivos gritando por liberdade, por um outro mundo possível para gente.
*Coordenador Geral do Coletivo de Entidades Negras/CEN, entidade nacional do movimento negro e Ogan de Ewá do Ilê Axé Oxumarê, Marcos Rezende é ativista do movimento negro e de direitos humanos. É formado em História com Pós Graduação em História e Cultura Afro Brasileira e Mestre em Desenvolvimento e Gestão Social pela UFBA.
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